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sexta-feira, 24 de março de 2017

Criança inicia processo de “transexualização” e é pioneira no Piauí

Desde os primeiros meses, Paty (nome fictício) já demonstrava que não se reconhecia como pertencente ao gênero no qual nasceu, o masculino. Quando aprendeu a falar, disse para a mãe que era uma menina, mas uma fadinha a transformou em menino. Hoje, aos seis anos, Paty fala, se veste e age como uma criança do sexo feminino, provando para a sua família que é uma criança transexual.
Diante dessa certeza, Amanda Pitta, mãe da menina, decidiu procurar ajuda profissional e conseguiu atendimento para a filha no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. O primeiro encontro de Paty com a equipe será no dia 22 de maio. Ela é a primeira criança do Piauí a iniciar o processo de “transexualização”.
A menina será recebida pelo psiquiatra Alexandre Saadeh e ainda passará por avaliações psiquiátricas e psicológicas mais complexas. O trabalho desses profissionais ganhou repercussão nacional devido à série “Quem Sou Eu?”, que estreou no dia 11 de março, no Fantástico.
Segundo Amanda, o primeiro passo é identificar a menina com Disforia de Gênero, de acordo com o Código Internacional de Doenças. “Por mim ela não precisaria, mas nesse caso a patologização é importante porque vai garantir os direitos dela. Por exemplo, quando ela tiver com o laudo, eu vou poder tentar a mudança de nome, vou pode garantir que ela seja matriculada com o nome social e outras coisas”, explica a mãe.
Caso os profissionais identifiquem, de fato, a Disforia de Gênero, a criança pode iniciar, por volta dos 11 anos, o tratamento para retardar o início da puberdade. Isso é importante para evitar que os traços masculinos se desenvolvam.
Somente aos 16 anos, se a menina realmente quiser assumir o gênero feminino, é que se inicia o tratamento hormonal. Já o processo de mudança de sexo só deve ocorrer quando Paty estiver adulta.
Por enquanto, Paty sequer compreende a necessidade do acompanhamento profissional, simplesmente porque não se enxerga como uma pessoa diferente. “Eu falei pra ela sobre o atendimento e ela só focou na parte da viagem. Disse que não está doente pra ir ao médico”, conta Amanda.
Para a menina, não existe nada de errado em ser como ela é. “Eu disse que a gente precisava contar que ela é diferente. Ela disse que não é diferente coisa nenhuma e que não queria falar isso pra ninguém. E voltou a brincar”, relata a mãe.
No ano passado, Amanda Pitta escreveu uma carta para o prefeito Firmino Filho(PSDB), contando a história da sua filha e fazendo um apelo para que ele vetasse o Projeto de Lei que proíbe o debate de gênero nas escolas. A proposta, que dependia apenas da sanção ou do veto do prefeito, retornou à Câmara de Vereadores e não foi mais discutido. Nayara Felizardo | O Dia


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