Um agressor de mulher é condenado a cada dois dias no Piauí, aponta MP
A Lei Maria da Penha, criada para coibir atos de violência física,
patrimonial, sexual e moral contra a mulher, completa 15 anos neste sábado, 7.
Segundo dados oficiais, em média um agressor é condenado a cada dois dias pela
Justiça piauiense por esse tipo de crime. O número é do Núcleo de Promotorias
de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar
(Nupevid), órgão do Ministério Público do Piauí, que somou 448 sentenças
condenatórias desde 2019. Informações Meio Norte
O índice é reflexo direto da evolução da lei, que quebrou muitos
paradigmas desde 2005 quando foi instituída, tirando o problema social da
invisibilidade e aumentando os registros de denúncias. Não à toa, o núcleo já
recebeu 6,2 mil novos processos de violência doméstica, somente até julho deste
ano. Nesse ritmo, 2021 deverá fechar com mais de 10 mil processos instaurados,
um recorde, tendo em vista que o maior volume foi registrado há dois anos, em
2019, com 8.997 procedimentos.
“Isso acontece, porque a lei Maria da Penha oferece dispositivos para
auxiliar as vítimas, que passaram a denunciar mais e a acreditar no sistema de
justiça”, afirmou Amparo Paz, promotora de Justiça e coordenadora do Nupevid,
destacando que apesar do crescimento dos números, é preciso ampliar a oferta
das políticas públicas. “Isso deve ocorrer para que além da assistência
jurídica, a mulher também esteja assistida em suas demandas das mais variadas
ordens e não fiquem expostas a novas violações de direitos”, pontuou.
Promotora Amparo Paz (Foto: Portal Meio Norte)
O Ministério Público do Piauí, unido aos demais órgãos e parcerias e
valendo-se dos esforços de cunho preventivo e repressivo, avançou muito na
defesa da mulher. A implementação dos projetos e campanhas, tem auxiliado nessa
conquista, a exemplo do programa Reeducar, que desde 2016 trabalha no formato
de grupos reflexivos com homens autores de violência doméstica e familiar, cujo
índice de reincidência está abaixo de 2%. Até o momento existiu apenas um caso.
Ano passado se encerrou com 1,2 milhão de processos de violência
doméstica em tramitação, segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça). No
Piauí, são em torno de seis mil processos em andamento e quase 5,1 mil medidas
protetivas expedidas pelo Tribunal de Justiça do Estado. Em 2020, segundo o
Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados 2.669
boletins de ocorrência por lesão corporal no contexto de violência doméstica e
quase 10 mil denúncias de ameaça.
Entretanto, comparado com os dados deste ano, de janeiro até junho, a
Secretaria Estadual de Segurança Pública já registra aumento de 26,5%, frente o
primeiro semestre de 2020. De acordo com os números das Delegacias
Especializadas das Mulheres (DEAMs), foram registrados 2.972 boletins de
ocorrências até a metade deste ano, com destaque para o mês de junho que
computou 513 denúncias, uma alta de 51,7% em relação ao mesmo mês do ano
passado.
VEJA OS DADOS NA ÍNTEGRA
“Esse número representa um aumento quando comparado ao ano passado,
quando estávamos no ápice da pandemia da Covid-19. Então, é até natural que
estejam mais elevado nos primeiros meses de 2021, tendo em vista que agora
estamos mais próximo da realidade média de casos”, relatou a delegada Bruna
Verena, titular do Departamento Estadual de Proteção a Mulher, lembrando que no
primeiro semestre do ano passado a sociedade estava cumprindo medidas mais
restritivas no combate ao novo coronavírus. “Até o transporte público parou e
com isso diminuiu a ida das mulheres as delegacias”, disse.
A delegada lembra, também, que outros fatores que explicam esse
crescimento é que atualmente existem mais canais de denúncias online. Segundo
ela, hoje qualquer mulher pode usar o telefone celular e de casa registrar um
boletim de ocorrência no site da polícia civil ou baixar o aplicativo salva
maria. Isso sem falar no telefone de emergência 190, que só ano passado recebeu
mais de 36 mil chamadas no Estado. “Tudo isso tem facilitado e estimulado as
mulheres vítimas de violência doméstica fazerem as denuncias”, pontuou.
Porém, desde o começo da pandemia, pesquisas alertam para o aumento da
violência doméstica e colocam como fatores principais o maior tempo de
convivência com agressores e a dificuldade em procurar ajuda durante o
isolamento. Mas, levantamento inédito, também do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, publicado ainda em junho, revela que a maior parte das vítimas apontou
a questão financeira como grande problema.
De acordo com o estudo, batizado de "Visível e invisível: A
Vitimização de Mulheres no Brasil", para 25,1% das entrevistadas, a falta
de autonomia financeira, impulsionada pelo aumento do desemprego, foi o que as
deixou mais vulneráveis. Maior convivência com o agressor foi citado por 21,8%,
e dificuldade de procurar a polícia, por 9,2%. No geral, uma em cada quatro
brasileiras sofreu algum tipo de violência no último ano, seja ela física,
psicológica ou sexual.
"Nesse primeiro ano de pandemia,
importamos explicações para aumento de violência doméstica de outros países.
China, Estados Unidos e Europa fizeram vários estudos sobre o perigo em
conviver mais com o agressor, a dificuldade de acessar delegacias e
equipamentos de saúde. Mas, agora, chega a resposta da mulher no Brasil, que
está dizendo: o que mais pega é a parte financeira", diz Samira Bueno,
diretora executiva do Fórum, em entrevista à imprensa.
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