A piauiense Ana Kaline, 23, mora em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e teve sua casa inundada pelas águas do rio Gravataí, na última sexta-feira, 3. Kaline vive com o esposo, Francisco das Chagas, 27 anos, há cerca de três meses na capital gaúcha. O casal esteve em dois abrigos, com os dois filhos, de 6 anos e 1 anos e 10 meses, e agora está abrigado na casa do proprietário do imóvel onde moravam. O desejo deles é retornar ao Piauí para tranquilizar a família.
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Reprodução/Arquivo Pessoal |
"Ele nos resgatou no abrigo e nos trouxe para ficar na casa dele, com a família dele. Aqui é mais seguro. O abrigo é uma situação tão triste, muito triste", explicou Kaline.
A jovem foi entrevistada pelo radialista Ney Silva, da rádio Cidade Verde em Pedro II. Kaline e o esposo são naturais de Cocal de Telha, a 125 km de Teresina, região Norte do estado.
"Viemos para o Rio Grande do Sul acompanhando meu esposo, que veio trabalhar aqui. Moramos em uma casa alugada no bairro Canoas, que fica perto do rio Gravataí", explicou.
"A água começou a entrar pela porta da sala na sexta-feira de manhã. Um dia antes, meu esposo saiu para trabalhar e a rua estava cheia de água. Não tinha ônibus. Quando foi por volta de 11h a água baixou. Na sexta-feira, quando acordei liguei para meu esposo e disse que estava preocupada porque estavam evacuando o bairro", relembra.
A família buscou os abrigos disponibilizados pela Prefeitura de Porto Alegre para receber os desabrigados.
"Por volta das 15h, a rua estava cheia de água. A água estava minando pelos bueiros. Saímos e quando voltamos, a água estava no portão de casa, já na altura da canela. Entramos em casa, pegamos os documentos e fomos para o primeiro abrigo. Para não esperar o pior acontecer, de madrugada ou de noite, saímos de casa por volta das 17h. Não temos carro e não conhecemos ninguém aqui. Chamamos um carro de aplicativo, mas os motoristas não aceitavam. Até que um motorista aceitou e nos levou para o primeiro abrigo. Mas estava cheio, já tinha cerca de 200 pessoas lá. No segundo abrigo a água já estava ameaçando entrar no local. Passamos a primeira noite, nem dormimos, não tem como dormir", disse.
Kaline falou sobre como é viver no abrigo.
"A situação é muito triste. Não consegui dormir, ninguém consegue", disse.
Segundo Kaline, as notícias que circulam na cidade é que em alguns bairros os resgates foram encerrados.
"Eu não vi pessoas mortas, mas as notícias que ouvimos é que em alguns bairros tem pessoas mortas, crianças e até recém-nascidos", disse.
A piauiense também falou sobre os saques às residências e empresas inundadas.
"Está acontecendo saques. Parece que o ser humano não tem coração. Pela situação que estamos passando e as pessoas ainda têm coragem de saquear as coisas", desabafa.
A dona de casa falou sobre as dificuldades enfrentadas pela população do bairro Canoas, onde estavam morando.
"As prateleiras dos supermercados estão vazias, não tem como repor os alimentos. O fornecimento de água das residências foi suspenso. Não tem mais água para comprar no supermercado", relata.
O medo de todos é que volte a chover no estado. Segundo Kaline, há três dias não chove na cidade, mas a previsão de tempo para o restante da semana é de chuva.
"Hoje está com três dias que não chove. Está calor, mas a água não está baixando. Amanhã a previsão é de chuva e já estamos preocupados. Nunca pensei que fosse passar pelo que estamos passando. Perdemos tudo o que tínhamos. No jornal as notícias são ruins, não tem notícias boas. A água não está baixando, só aumentando", afirma.
Agora a família deseja voltar ao Piauí
"Queremos voltar para casa, para o Piauí, até para tranquilizar nossa família. De início não dissemos a eles o que estava acontecendo aqui, mas eles viram na televisão e ficaram desesperados. Minha mãe e minha sogra ligaram chorando. Agora estamos bem, seguros e queremos voltar para casa, não tem mais como ficarmos aqui", disse.
A família disponibilizou um PIX para receber doações.
PIX: 86981527047