Por Teodoro Neto |
Uma mulher que foi babá da filha do deputado federal
Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o Tiririca, está acusando o político
de assédio sexual. Maria Lúcia Gonçalves Freitas de Lima, de 41 anos, entrou
com uma reclamação trabalhista e registrou ocorrência na 10ª Delegacia de
Polícia de Brasília. Tiririca nega, alegando que está sendo vítima de extorsão.
Como o parlamentar dispõe de foro privilegiado, o processo
foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 20 de junho e distribuído oito
dias depois ao ministro Celso de Mello, que retirou o sigilo dos autos.
O deputado e sua mulher, Nana da Silva Magalhães,
contestaram a ação trabalhista e também apresentaram uma queixa policial contra
a doméstica. Eles negam o crime e alegam que Maria Lúcia quer levar
"vantagem econômica indevida" a partir dos "fatos inverídicos".
Ela teria tentado extorquir dinheiro de Tiririca e Nana: caso não lhe
entregassem a quantia de R$ 100 mil na rescisão do contrato, a ex-funcionária
teria prometido prejudicar os ex-patrões. Segundo eles, a doméstica foi
demitida por consumir bebida alcoólica no expediente e todos os débitos
trabalhistas foram quitados.
Filha do casal defendeu a babá
Maria Lúcia foi contratada em 1º de março de 2016 para
cuidar da filha do casal e foi demitida, sem justa causa, com aviso prévio
indenizado, em 29 de junho, de acordo com os autos. Em depoimento à polícia, no
último 20 de junho, a doméstica contou que se juntou à família do parlamentar
em duas viagens de maio daquele ano. No dia 24, foram a São Paulo, onde
Tiririca seria entrevistado na TV, no dia seguinte. Ainda de acordo com a
declaração da ex-funcionária, ao voltar do estúdio para seu apartamento na
capital paulista, por volta de 23h, o deputado "exalava odor etílico"
e reclamou do quão comprido era o nome da empregada.
Em seguida, ainda segundo o relato da doméstica, Tiririca a
agarrou pelo braço, jogou-a no sofá e a segurou com força por trás e pela
cintura. Ele dizia, segundo a reclamante, que faria sexo anal e vaginal com
ela. O deputado teria desabotoado as calças, e a doméstica começou a ficar com
medo. Depois, conseguiu se soltar e ficou atrás do sofá até que o parlamentar
teria corrido atrás dela com as calças nos joelhos. A cena, segundo Maria
Lúcia, foi presenciada pela mulher de Tiririca, por assessores do político e
pela filha de 8 anos do casal — a única que a teria defendido, enquanto os
outros riam.
A menina teria empurrado o pai, que teria caído no chão e
sido levado para a cama, embriagado. Como não havia cama para todos no
apartamento de São Paulo, a doméstica foi obrigada a dormir no chão, em um
edredom. No dia 26, a família seguiu para um sítio do parlamentar em Fortaleza,
no Ceará. Lá, os excessos de cunho sexual não teriam parado. Em festas
organizadas pela família, Tiririca teria repetido os comentários sexuais toda
vez que via a funcionária e teria passado a mão nos cabelos e nas nádegas dela,
sem consentimento. "Se experimentar, vai gostar", teria dito.
Em um passeio de lancha, segundo o relato de Maria Lúcia,
Tiririca mergulhou na água com o celular dela, que guardava um vídeo no qual
ele falava "besteiras" para a babá. Mais tarde, teria chantageado a
mulher com a garantia do emprego para ter relações sexuais com ela. Ainda em
Fortaleza, a patroa teria procurado a doméstica e defendido que o marido agia
daquela forma por gostar da funcionária. A autora da queixa relatou à polícia
que se sentia "ofendida" e "menos valorizada que um
cachorro". Ela negou no depoimento que tivesse cobrado R$ 100 mil do
casal.
Na ação policial, Nana Magalhães solicitou providências das
autoridades contra a doméstica, "com receio" de que as
"acusações infundadas" prejudicassem a imagem dela e do marido. O
advogado do casal argumenta na contestação da queixa que Maria Lúcia tenta usar
o estereótipo do personagem de Tiririca para lhe atribuir os mesmos
comportamentos, às vezes chulos, em sua vida pessoal e privada.
"Não se pode conceber um preconceito em relação à
atividade artística (...) No palco o 2 Reclamado interpreta um palhaço com
linguajar coloquial, e por vezes, com vocabulário chulo. Isso não significa que
o 2 Reclamado traga para sua vida pessoal o comportamento do personagem que
interpreta", escreveu o advogado Fernando de Carvalho e Albuquerque.
Ao receber o processo, o ministro Celso de Mello ordenou que
a etiqueta dos autos fosse mudada de "crime contra o
patrimônio/extorsão" para "crime contra a liberdade sexual". Ele
argumentou que a acusação contra a doméstica deveria correr em primeiro grau,
já que ela não dispõe de foro privilegiado. O ministro vai analisar a queixa
contra o deputado federal. Informação O Globo
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