Jogadores ajoelhados no centro do campo após vitória sobre o Parnahyba |
Líder do returno do campeonato estadual, com 100% de
aproveitamento, o Piauí vive uma crise enquanto disputa uma vaga na Série D do
Campeonato Brasileiro. Em excelente momento dentro de campo, o Enxuga Rato
passa por um ambiente interno conturbado. O clube rubro-anil está com dois
meses de salários atrasados, segundo os jogadores, e não treina desde a última
quarta-feira em sinal de protesto. E a insatisfação do elenco não se restringe
às folhas em débito.
Lanche servido antes do jogo, arroz frio com mortadela |
A estrutura, principalmente a comida, é alvo de
reclamações. Um dos lanches dados na véspera de uma partida do torneio foi
arroz gelado com mortadela, de acordo com o relato dos atletas. Para jogar no
último sábado, na vitória em cima do Parnahyba, o time recebeu R$ 100. A diretoria
financeira negou com veemência as denúncias do time e afirmou que a quitação
dos vencimentos é prioridade.
- Complicado uma situação dessas. A pior coisa é ser pai de
família, ouvir seu filho querendo comprar alguma coisa e você, sem nenhum
dinheiro, falar a ele que não pode comprar. Me pergunto o motivo de aguentarmos
essa situação, somos homens e honramos o nosso trabalho, deve ser por isso. Se
fechar, seria pior... Resolvemos, então, fazer greve e não treinamos na semana.
Aqui tem jogador que não tem comida, não existe suplemento alimentar. Às vezes,
não tem dinheiro para comprar sabonete. Falta tudo, isso não é um time
profissional - revelou um dos jogadores o Piauí.
Cem reais, foi o valor que os jogadores receberam no sábado, apos vitória sobre o Parnahyba |
Para não ter que pagar despesas com hospedagens, o clube
decidiu fazer viagens nos dias de jogo. Na estreia do returno do Piauiense,
contra o Picos, o time saiu de Teresina no começo da tarde, enfrentou pouco
mais de 300km de estrada e chegou a menos de uma hora do início da partida no
estádio Helvídio Nunes. Jogou, venceu por 2 a 1 e retornou na madrugada de
volta.
Comida Piauí (Foto: GloboEsporte.com)
Jogador revela comida oferecida pelo Piauí antes de partida
do estadual (Foto: GloboEsporte.com)
- Desumano. Estamos viajando no mesmo dia, foi assim a
Parnaíba (330km) e Floriano (234Km). No caminho de Picos, fomos com fome,
comemos um pão de forma, um sanduíche no meio da estrada. À noite, na véspera
de um jogo, foi dado no lanche arroz frio e mortadela. Remédio é o próprio
jogador que compra. Não tem campo para fazer coletivo porque o mato toma de
conta, não tem ninguém para cortar - narra outro jogador.
Dinheiro Piauí (Foto: GloboEsporte.com)
Jogadores exibem vale de R$ 100 recebido antes do jogo
contra o Parnahyba pelo Piauiense (Foto: GloboEsporte.com)
De acordo com relatos, os rubro-anis receberam uma vale de
R$ 150 no mês de fevereiro e, depois, um outro no valor de R$ 300.
- Jogadores não têm carteira assinada. Recebemos no fim de
semana R$ 100 para jogar. Chegou a nosso extremo. Já recebemos pouco - alguns
com um salário mínimo - e precisamos do que é nosso. Os jogadores têm medo de
falar, de serem mandados embora, tem medo da repressão. Fazer futebol assim é
brincadeira - comentou um atleta.
Um racha entre diretores é o motivo contado pelos jogadores
para a situação ter chegado a esse ponto. O clube não tinha dinheiro para
participar do Campeonato Piuiense, mas recebeu apoio de um grupo investidor
para pôr o time no estadual. A queda de braço entre esses lados acentua ainda
mais a crise, e os atletas se queixam que não sabem a quem recorrer. - globoesporte.com-pi