O major Evandro Rodrigues, vice-presidente da Associação dos
Oficiais do Piauí (Amepi), pretende denunciar ao Ministério Público do Trabalho
as condições inóspitas a que os policiais militares piauienses estariam
submetidos em diversos Batalhões, Companhias e demais unidades da corporação no
Estado.
Evandro Rodrigues afirma ter constatado situações
inapropriadas em oito quartéis da Polícia Militar do Piauí: no 1° Batalhão
(centro); 5° Batalhão (zona leste); 6° Batalhão (zona sul); 8° Batalhão (zona
sudeste); 9° Batalhão (zona norte); Esquadrão Independente de Policia Montada;
Companhia Independente do Promorar; e até mesmo no Quartel do Comando Geral
(QCG).
"Informo que este signatário ao encontrar-se escalado
de serviço no segundo turno do dia 3 para o dia 4 de Outubro de 2016, e ao
verificar as condições às quais os policiais militares de serviço são
submetidos, visitei e determinei aos respectivas guardas dos Batalhões e
Companhias visitados, que fosse feito um relatório
simplificado e informal sobre as condições de trabalho que os mesmos vivenciam
nas unidades onde desenvolvem suas atividades, tendo sido constatadas condições
inadequadas para o bom desenvolvimento dos serviços nos quarteis e mesmo
condições inadequadas dos policiais militares que desenvolvem seus serviços
externos, mas que têm como apoio e base as respectivas unidades de suas áreas
de atuação", pontua o major, em seu relatório de serviço.
O oficial afirma ter identificado inadequações nas
instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias e estruturais, bem como a
utilização de colchões velhos e banheiros com "fedentina
insuportável".
Segundo Evandro Rodrigues, apenas o 13º Batalhão da PM-PI,
no bairro Santa Maria da Codipi, possui uma estrutura adequada para o trabalho
dos PMs.
O major também denuncia a ausência de computadores, para
confecção de documentos, bem como de materiais de limpeza e de simples
expediente, como folha papel, dentre outros.
Evandro Rodrigues enumera outras irregularidades ainda mais
graves que ele identificou, como a insuficiência de munições para os policiais
em serviço e a existência de coletes a prova de balas vencidos ou que estão
perto de ter a validade expirada.
O Oficial afirma que já enviou o relatório ao governador
Wellington Dias, ao secretário de Segurança, Fábio Abreu, e ao
comandante-geral, coronel Carlos Augusto.
"Nesta quarta-feira eu vou ao Ministério Público do
Trabalho, que tem a atribuição de fiscalizar essas irregularidades. E vou pedir
que seja feita uma análise mais específica de tudo o que está dito lá [no relatório],
para que eles acrescentem as outras coisas que não foram ditas, para poderem
tomar providências, que é o único objetivo. Nós somos cidadãos, pais de
família, e não é porque nós não somos sindicalizados e não podemos fazer greve
que vamos deixar de ter direito a dignidade", dispara o major.
Criatórios de
mosquitos da dengue no QCG
O major também informou que alguns policiais relataram haver
locais dentro do Quartel do Comando Geral da PM-PI que funcionam como
verdadeiros criatórios do mosquito aedes aegypti, que transmitem a dengue, o
zika e chikungunya.
O major explica que pediu que policiais de cada um dos
quartéis citados fizessem um relatório simples apontando quais os principais
problemas observados em cada unidade. "Para você ter uma ideia, nem papel
tinha em alguns quartéis para que o policial pudesse fazer o relatório que eu
solicitei. Mesmo assim, eu pedi que eles escrevessem em qualquer papel que
estivesse à disposição e que pelo menos duas pessoas assinassem. Depois, eu fui
em cada uma dessas unidades para pegar os relatórios e verificar in loco os
problemas relatados. A partir daí, eu tirei fotos dos locais e constatei, de
fato, que muitos deles são verdadeiras pocilgas. Locais onde há uma fedentina
insuportável, vazamento de água, dentre outros problemas. No 1º Batalhão, por
exemplo, eu vi marcas de infiltrações nas paredes, colchões inservíveis para os
policiais militares, cadeiras sucateadas, que não são encontradas nem em
lixões, dentre outras situações absurdas", afirma o major Evandro.
O oficial diz ter tomado conhecimento também do caso de um
princípio de incêndio que ocorreu no 9º Batalhão e os policiais quase não
conseguiram controlar, pois o extintor apresentou problema no momento em que
foi utilizado.
"Policiais dão plantão é para trabalhar, não para
dormir", rebate major John Feitosa
O major John Feitosa, que comanda o setor de Relações
Públicas, disse não ter conhecimento da existência desses problemas, sobretudo
relacionados à falta de munições e à existência de coletes inapropriados.
"Eu, particularmente, não tenho conhecimento disso não.
Todos os nossos policiais estão indo pra rua com colete. Todos os policiais
nossos têm armas para trabalhar. Hoje, praticamente, os nossos policiais nem se
alojam mais no quartel, porque depois que acaba o expediente administrativo os
policiais que ficam de serviço vão é pra rua, porque quartel não é lugar de
dormir, é lugar de trabalhar. O pessoal que está na rua não anda dormindo. Ou
seja, eu estou estranhando essa denúncia. Inclusive, eu vou comunicar à
Corregedoria pra ela apurar se tem procedência algum fato desse tipo",
afirmou o major John Feitosa.
Sobre os coletes balísticos, Feitosa informa que eles
"são testados periodicamente". "Os coletes não têm uma
prescrição rígida de data [de validade]. É apenas uma forma para você puder,
sempre que possível, fazer a reposição. Mas todos eles estão em condições de
uso. E se alguém estiver com algum colete sem condição de uso tem que comunicar
para o Comando, e até agora não chegou qualquer comunicado desse tipo para o
Comando, que eu saiba", acrescentou o major John Feitosa.
Major Evandro rebate John Feitosa e diz temer represálias
O major Evandro também rebate a afirmação de John Feitosa,
afirmando que os policial precisam sim ter um ambiente com as condições mínimas
de conforto.
"O nosso policial que está na rua tem uma base, e ele
retorna até essa base para fazer as suas necessidades básicas, pra fazer uma
refeição, pra ir ao banheiro, pra poder tomar um banho, pra poder lavar o
rosto. Mas chega lá e encontra um ambiente totalmente inóspito, um local
inadequado", ressalta.
Embora seja vice-presidente da Associação dos Oficiais
Militares do Piauí (Amepi), o major Evandro diz que está fazendo a denúncia por
conta própria, e não representando a entidade.
"O nosso regulamento disciplinar, em seu artigo
terceiro, determina que o superior deve se importar com os problemas dos seus
subordinados. Não é só cobrar, mas também se importar com a situação de caos
que ele se encontra. Então, eu estou fazendo essa denúncia, que não é de
associação nenhuma, mas sim uma denúncia pessoal, como policial militar, porque
eu fiquei indignado com o que eu vi", afirma o major Evandro.
O oficial diz temer ser alvo de represálias por ter feito
essa denúncia publicamente, inclusive sua prisão. "Estou preparado para
qualquer tipo de consequência arbitrária, o que geralmente ocorre. Sou um pai
de família mas não posso fechar os olhos diante dessa situação dos meus
subordinados. Porque meus subordinados merecem respeito, e eu também mereço
respeito. Ao verificar situações horríveis como essas eu não posso simplesmente
fechar os olhos, como muitos fecham", conclui Evandro Rodrigues.
Colchão velho, sujo sem condições de uso |
Paredes descascando, soltando a tinta e bastante mofo |
Bebedouro estragado foi colocado uma madeira para sustentar a bandeja, a parede foi reparada mais não recebeu pintura |
O assento que deveria está no vaso, foi dependurado na parede por não ter serventia |
Por falta de camas, os colchões são colocados no chão
Edição: ParnaibapontoCom
Fonte: Diário do Povo
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