A reportagem do Fantástico deste domingo (15/05) mostrou o
drama de pacientes que sofrem nos leitos de hospitais necessitando de vagas em
UIT (Unidades de Terapia Intensiva pelo país).
Com 77% dos municípios brasileiros sem leitos de UTI, hoje
são pouco mais de 55 mil leitos disponíveis para os 204 milhões de habitantes.
Em contrapartida, 74% das vagas estão concentradas nas regiões metropolitanas,
incluindo atendimento do SUS (Serviço Único de Saúde) e hospitais particulares.
No primeiro caso, são 2,5 mil leitos para cada 10 mil habitantes. Já para o
sistema particular, a proporção é de 6 para cada 10 mil habitantes.
O quadro se reflete em filas nas grandes unidades de saúde.
Os médicos entrevistados pela reportagem confessam o recorrente drama de terem
de escolher entre os pacientes, quem vai viver e quem vai morrer.
No Piauí, o repórter Marcelo Canellas contou casos em que a
justiça precisou interferir para garantir que pacientes em estado grave
tivessem direito à vaga na UTI. O médico Cleriston Silva Moura revela que, no
Hospital de Urgência de Teresina, a lista dos pacientes a serem encaminhados
para a terapia intensiva é formada de acordo com a ordem de chegada dos
mandados judiciais.
Há dois anos foi ele o médico que recebeu voz de prisão para
garantir uma vaga de UTI, e só escapou de ser preso por ter aparecido um leito
de última hora. "Além da pressão do plantão em si, a gente vive essa
pressão até institucional", conta o médico.
O juiz que determinou a internação de uma pessoa na UTI,
Deoclécio Sousa, pediu a prisão do médico depois que a ordem de internação foi
descumprida e disse que o médico seria preso, naquele caso, por acumular a
função administrativa na unidade.
A reportagem ouviu ainda o juiz titular da 1ª Vara da
Fazenda Pública, Aderson Nogueira, que diz estar cansado de desculpas
esfarrapadas. "Não vou cumprir, não vou ter leito de UTI, não tem
medicamento, não tem material cirúrgico, e esse discurso, esse refrão é antigo.
E ninguém toma medida nenhuma", ressalta.
Também foi destaque o caso grave ocorrido na Maternidade
Dona Evangelina Rosa, que também precisou de intervenção da justiça. Lá, bebês
são mantidos vivos em uma UTI improvisada, como mostram imagens exibidas pelo
Fantástico. No caso, a secretaria de Saúde do Piauí chegou a assinar um termo
de ajustamento de conduta, prometendo aumentar as vagas de UTI. A promessa não
cumprida já rende ao Estado seis processos por desobediência.
"O acesso a um leito de UTI no Piauí, e eu acho que no
Brasil não é diferente, é uma verdadeira loteria. Há um grande distanciamento
entre as leis que regem a saúde pública no brasil e a realidade vivida pela
população que bate à porta da promotoria", denota a promotora Claudia
Seabra, que acompanha a situação na maior maternidade do Piauí.
Ao Fantástico, o governo reforçou a promessa de aumento de
vagas de UTI.