Edição Teodoro Neto |
Foto | Cândido Neto |
No Piauí, de 2015 a agosto deste ano, 35 policiais militares
perderam a vida, a maioria vítima de homicídios. Esses homens, que morreram
para proteger a sociedade, deixaram viúvas e filhos que foram abandonados pelas
autoridades do Estado.
Entre as viúvas que estão à mercê da própria sorte,
encontra-se a dona de casa Maria José Gomes Santos, que perdeu o marido em
2012, após ele ser assassinado por outro policial militar, dentro do Pelotão de
Policiamento Ostensivo, em Teresina. Desde então, ela cria os três filhos com
uma pensão de pouco mais de dois mil reais, e se vê sem perspectiva.
“Meu marido foi morto e eu virei ninguém para o Estado que
ele tanto lutou para trazer segurança. O homem que o matou não foi punido e eu
tenho que encarar, junto com os meus três filhos, os descasos com o nossa
situação, por parte das autoridades. O meu marido era quem sustentava a casa,
além de policial, ele ainda fazia bicos como pedreiro para complementar a
renda. Depois que ele morreu, eu vivo com uma pensão que só diminui o valor a
cada ano que passa. Minha situação só não é pior porque conto com a ajuda de
familiares e amigos”, lembra.
Além de conviver com a dor da perda, as mulheres dos
policiais mortos no Piauí relatam dificuldades em conseguir dar entrada no
pedido de pensão. O prazo para receber o benefício por morte pela previdência
do Estado do Piauí é de no mínimo seis meses.
“Temos um caso de uma mulher que o marido foi morto em
dezembro de 2016, sendo que até hoje ela não recebeu um centavo. Sem falar
naquelas que receberam os pagamentos parcelados e estão em situação financeira
alarmante. Como sustentar uma família dessa forma? Nossa polícia tem uma das
piores remunerações do Brasil, e o Governo nada faz para melhorar”, disse o
major Diego, que está nessa luta junto com as viúvas.
A professora Conceição de Maria contou ao Diário do Povo
como está levando a vida após perder o marido, em abril deste ano. O Major Mayron Moura Soares, 44
anos, foi assassinado quando esperava a filha em uma parada de ônibus, no
bairro Todos os Santos, zona Sudeste da capital.
“Nosso filho estava junto com meu marido, na hora que os
bandidos atiraram contra eles, minha tragédia só não foi maior porque ele
lembrou dos conselhos do pai e se abaixou no momento do tiroteio. Mas hoje
tenho que conviver com ele tendo pesadelos, todas as noites, devido ao trauma
que passou. Em nenhum momento, eu recebi apoio psicológico para mim ou para
meus dois filhos que perderam o pai de uma forma tão cruel. Todos os dias, eu
procuro forças para tocar a vida, tendo que olhar para meus filhos sem pai, com
medo da violência e carregados de traumas”, desabafa a professora.
As viúvas dos militares piauiense estão se reunindo para
criar uma associação e juntas lutarem por seus direitos e dos filhos, em um
momento de tanta dor e sofrimento. “Se estivermos juntas, será mais fácil a batalha por nossos direitos. Vivemos com muitas dificuldades, principalmente
financeira e psicológica. Com a associação, nossa intuição é nos ajudar, porque
infelizmente não vão morrer só esses policiais, já que o Estado nada faz para
reforçar o trabalho e dar segurança para os policiais militares”, afirmou Maria
José Gomes.
Os números de mortes de policiais nos últimos dois anos
no Piauí são assustadores. Só em Teresina, 14 PMs foram assassinados, a maioria
quando estavam de folga.
“Esse crime quase que triplicou em nosso estado. O Piauí
está entre os cinco piores salários de policiais. Sem falar que o investimento
em segurança e equipamentos não chega nem a um terço do recomendado pela ONU.
Se você for analisar os números, temos um policial morto por mês, nos últimos
36 meses”, ressalta o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar
do Piauí(Amepi), tenente-coronel Carlos Pinho.
Para o coronel, esse grande número de mortes se dá
principalmente pela falta de investimento em segurança pública, que acarreta
prejuízos tanto dentro dos quadros da polícia como para a população do Piauí.
“O que vemos é um esquecimento por parte das autoridades,
que nada fazem para melhorar a carreira e quem mais perde com isso também é a
sociedade, que fica à mercê da bandidagem, já que o nosso aparelho de combate
está cada dia mais desatualizado e o dos marginais mais modernos. O Governo
piauiense investe R$ 71,36, em segurança, sendo que o ideal seria cinco vezes
esse valor por habitante. Houve um caso na cidade de Paquetá do Piauí, em que o
policial foi morto com a própria arma pelo bandido. Ele estava sozinho no
quartel, e isso é comum em muitas cidades do interior. Sem falar no abandono
que as famílias desse homens mortos ficam, sem ao menos uma pensão digna para
se sustentar”, ressalta o tenente-coronel Carlos Pinho.
As viúvas querem também lembrar a população da
importância do trabalho desses policiais que dão a vida para proteger a
sociedade. “Eles saem de casa todos os dias, deixando sua família para proteger
quem eles nem conhecem. Precisamos do apoio da sociedade nessa luta. Porque só
com uma polícia mais preparada, com mais investimentos em segurança, vamos
evitar que muitas famílias fiquem chorando a perda de um ente querido tão
cruelmente, como nós choramos”, enfatiza Conceição de Maria.
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