terça-feira, 19 de setembro de 2017

Viúvas de policiais militares são esquecidas pelo Governo do Piauí

Edição Teodoro Neto |
Foto | Cândido Neto
No Piauí, de 2015 a agosto deste ano, 35 policiais militares perderam a vida, a maioria vítima de homicídios. Esses homens, que morreram para proteger a sociedade, deixaram viúvas e filhos que foram abandonados pelas autoridades do Estado.
Entre as viúvas que estão à mercê da própria sorte, encontra-se a dona de casa Maria José Gomes Santos, que perdeu o marido em 2012, após ele ser assassinado por outro policial militar, dentro do Pelotão de Policiamento Ostensivo, em Teresina. Desde então, ela cria os três filhos com uma pensão de pouco mais de dois mil reais, e se vê sem perspectiva.
“Meu marido foi morto e eu virei ninguém para o Estado que ele tanto lutou para trazer segurança. O homem que o matou não foi punido e eu tenho que encarar, junto com os meus três filhos, os descasos com o nossa situação, por parte das autoridades. O meu marido era quem sustentava a casa, além de policial, ele ainda fazia bicos como pedreiro para complementar a renda. Depois que ele morreu, eu vivo com uma pensão que só diminui o valor a cada ano que passa. Minha situação só não é pior porque conto com a ajuda de familiares e amigos”, lembra.
Além de conviver com a dor da perda, as mulheres dos policiais mortos no Piauí relatam dificuldades em conseguir dar entrada no pedido de pensão. O prazo para receber o benefício por morte pela previdência do Estado do Piauí é de no mínimo seis meses.
“Temos um caso de uma mulher que o marido foi morto em dezembro de 2016, sendo que até hoje ela não recebeu um centavo. Sem falar naquelas que receberam os pagamentos parcelados e estão em situação financeira alarmante. Como sustentar uma família dessa forma? Nossa polícia tem uma das piores remunerações do Brasil, e o Governo nada faz para melhorar”, disse o major Diego, que está nessa luta junto com as viúvas.
A professora Conceição de Maria contou ao Diário do Povo como está levando a vida após perder o marido, em abril deste ano. O Major Mayron Moura Soares, 44 anos, foi assassinado quando esperava a filha em uma parada de ônibus, no bairro Todos os Santos, zona Sudeste da capital.
“Nosso filho estava junto com meu marido, na hora que os bandidos atiraram contra eles, minha tragédia só não foi maior porque ele lembrou dos conselhos do pai e se abaixou no momento do tiroteio. Mas hoje tenho que conviver com ele tendo pesadelos, todas as noites, devido ao trauma que passou. Em nenhum momento, eu recebi apoio psicológico para mim ou para meus dois filhos que perderam o pai de uma forma tão cruel. Todos os dias, eu procuro forças para tocar a vida, tendo que olhar para meus filhos sem pai, com medo da violência e carregados de traumas”, desabafa a professora.
As viúvas dos militares piauiense estão se reunindo para criar uma associação e juntas lutarem por seus direitos e dos filhos, em um momento de tanta dor e sofrimento. “Se estivermos juntas, será mais fácil a batalha por nossos direitos. Vivemos com muitas dificuldades, principalmente financeira e psicológica. Com a associação, nossa intuição é nos ajudar, porque infelizmente não vão morrer só esses policiais, já que o Estado nada faz para reforçar o trabalho e dar segurança para os policiais militares”, afirmou Maria José Gomes.
Os números de mortes de policiais nos últimos dois anos no Piauí são assustadores. Só em Teresina, 14 PMs foram assassinados, a maioria quando estavam de folga.
“Esse crime quase que triplicou em nosso estado. O Piauí está entre os cinco piores salários de policiais. Sem falar que o investimento em segurança e equipamentos não chega nem a um terço do recomendado pela ONU. Se você for analisar os números, temos um policial morto por mês, nos últimos 36 meses”, ressalta o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Piauí(Amepi), tenente-coronel Carlos Pinho.
Para o coronel, esse grande número de mortes se dá principalmente pela falta de investimento em segurança pública, que acarreta prejuízos tanto dentro dos quadros da polícia como para a população do Piauí.
“O que vemos é um esquecimento por parte das autoridades, que nada fazem para melhorar a carreira e quem mais perde com isso também é a sociedade, que fica à mercê da bandidagem, já que o nosso aparelho de combate está cada dia mais desatualizado e o dos marginais mais modernos. O Governo piauiense investe R$ 71,36, em segurança, sendo que o ideal seria cinco vezes esse valor por habitante. Houve um caso na cidade de Paquetá do Piauí, em que o policial foi morto com a própria arma pelo bandido. Ele estava sozinho no quartel, e isso é comum em muitas cidades do interior. Sem falar no abandono que as famílias desse homens mortos ficam, sem ao menos uma pensão digna para se sustentar”, ressalta o tenente-coronel Carlos Pinho.
As viúvas querem também lembrar a população da importância do trabalho desses policiais que dão a vida para proteger a sociedade. “Eles saem de casa todos os dias, deixando sua família para proteger quem eles nem conhecem. Precisamos do apoio da sociedade nessa luta. Porque só com uma polícia mais preparada, com mais investimentos em segurança, vamos evitar que muitas famílias fiquem chorando a perda de um ente querido tão cruelmente, como nós choramos”, enfatiza Conceição de Maria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário