A Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), resgatou na última quarta-feira, 6, 563 trabalhadores em condições análogas à escravidão em Porto Alegre do Norte, Mato Grosso, a cerca de mil quilômetros de Cuiabá. Entre eles, havia piauienses recrutados com falsas promessas e submetidos a jornadas exaustivas e alojamentos precários.
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Piauienses são resgatados de trabalho escravo em usina no Mato Grosso/Reprodução Vagner Teixeira Maciel - GSI/PGT |
Segundo os auditores-fiscais do Trabalho, os operários foram encontrados em um canteiro de obras de uma usina de etanol na zona rural, atraídos principalmente de estados do Norte e Nordeste, como Piauí, Maranhão e Pará.
As inspeções da força-tarefa nos alojamentos e locais de trabalho revelaram condições degradantes e diversas infrações às normas de saúde e segurança. Nas audiências administrativas realizadas entre 30 de julho e 5 de agosto de 2025, trabalhadores e representantes da empresa confirmaram as violações dos direitos trabalhistas.
Condições extremamente precárias
Os alojamentos tinham condições precárias, com quartos superaquecidos, superlotação e falta de itens básicos como travesseiros e roupas de cama adequadas. Problemas frequentes na energia elétrica interrompiam o fornecimento de água, deixando os trabalhadores sem água para consumo e higiene.
Antes do incêndio, a situação piorou, com uso de caminhões-pipa para água turva do Rio Tapirapé. O incêndio destruiu alojamentos, a panificadora e a guarita.
Após o ocorrido, os trabalhadores foram alojados em hotéis e casas alugadas. Houve 18 demissões por justa causa, 173 rescisões antecipadas e 42 pedidos de demissão. Cerca de 60 perderam todos os pertences no fogo.
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Piauienses são resgatados de trabalho escravo em usina no Mato Grosso/Reprodução Vagner Teixeira Maciel - GSI/PGT |
Pagamento “por fora” e aliciamento
As investigações apontaram irregularidades na jornada de trabalho, com funcionários cumprindo até 22 horas diárias e aos domingos, sob o sistema "cartão 2". Horas extras eram pagas à parte, fora da folha, configurando sonegação fiscal.
Muitos trabalhadores foram recrutados por intermediários e pagaram as passagens que depois eram descontadas dos salários. Quem não passava nos exames ou seleção ficava sem recursos para voltar para casa.
Larvas e moscas na comida
A alimentação era inadequada e repetitiva, com relatos de larvas, moscas e comida deteriorada. O refeitório, quente e sem ventilação, oferecia condições precárias para as refeições.
No canteiro de obras, foram encontradas condições insalubres, falta de refrigeração, poeira excessiva e acidentes de trabalho não registrados. Trabalhadores sofreram lesões e doenças de pele, além de ausência de EPIs adequados, colocando a saúde e segurança em risco.
Providências
As investigações seguem com análise de documentos e possíveis novas inspeções. O resgate dos 563 trabalhadores reforça a importância da fiscalização contra trabalho escravo em obras.
O MPT negocia um Termo de Ajuste de Conduta com a empresa para garantir pagamentos de rescisões, indenizações, despesas de retorno e reparação por perdas no incêndio. Também atua para corrigir todas as irregularidades nos alojamentos e no canteiro de obras. Com informações do MPT/MT
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